17.8.04

SEMANA NEGRA

Em apenas uma semana, mais de trinta pessoas perderam a vida nas estradas portuguesas, algumas muito jovens. De resto, à escala reduzida da nossa agência, essa semana foi infernal e o número de sinistros atingiu uma dimensão incomportável para a capacidade de resposta possível. Na esmagadora maioria dos casos estiveram em causa distracções absurdas ou negligências imperdoáveis, dando origem a prejuízos avultados e a danos corporais sem precedentes na história da Ultraser.
A resolução desta anómala carga de sinistros permitiu-nos identificar três obstáculos a ter em conta pelos nossos Clientes: o preenchimento incompleto ou deficiente da Declaração Amigável (DAAA), a atitude das forças policiais e a recusa das oficinas na aceitação dos salvados sem hipóteses visíveis de recuperação.
A DAAA é um instrumento determinante para uma resolução sem problemas de um sinistro automóvel. Porém, só um preenchimento adequado garante a efectividade do impresso e chamamos a atenção para alguns erros e omissões mais frequentes e causadores de atrasos evitáveis: matrículas ou números de apólice ilegíveis (provocam erros nos avisos de reclamação), campos por preencher (sobretudo os do local do acidente e as "cruzes" ao centro da DAAA, estas últimas fundamentais para a atribuição imediata de responsabilidades) e duplicados imperceptíveis (preencher a DAAA sobre o capot da viatura inibe a força na caneta...).
Quanto à intervenção das autoridades, infelizmente essencial para garantir os direitos dos lesados, é notório o efeito da sobrecarga de chamadas no comportamento dos agentes policiais. Incapazes de atenderem a todas as solicitações, GNR e PSP optam sistematicamente por "impor" o preenchimento da DAAA e viram as costas aos lesados, deixando-os à mercê dos espertalhões e dos irresponsáveis por falta de meios de prova. Uma atitude compreensível mas potencialmente injusta.
Finalmente, a complexa questão dos salvados (viaturas com danos irreparáveis) e respectivo parqueamento. É um problema que se agrava no período de férias e causa sérios embaraços a todos os intervenientes nesse tipo de situação. O problema nasce, como todos, na questão financeira. As oficinas reparadoras, de longe as únicas beneficiadas do aumento da sinistralidade, recusam aceitar veículos cujos danos visíveis implicam a perda total (isto, claro, se não se tratar de um modelo apetecido pelos sucateiros...). A assistência em viagem envia o reboque e este vê-se na contigência de "passear" em busca de uma oficina onde possa depositar o veículo danificado, até acabar por recolher os destroços em parque próprio (com custos diários a suportar pelas companhias ou pelos próprios proprietários das viaturas). Contudo, só uma peritagem permite a confirmação da perda total e essa só pode ser efectuada numa oficina...
É um problema complicado e afecta pessoas que, pela gravidade dos acidentes, não ficam na maioria dos casos em condições de o resolverem. Ora, se as oficinas entendem por bem rejeitar o parqueamento de uma viatura que sabem de antemão não ser passível de reparar (não existindo qualquer perspectiva de lucro) e as viaturas não podem ser peritadas no meio da rua ou nos parques das empresas rebocadoras, a quem compete resolver o problema?
Em última análise, às seguradoras. É natural que os consumidores criem expectativas elevadas em face dos prémios de seguro cada vez mais altos que têm de suportar. Por outro lado, é óbvio o prejuízo adicional que umas semanas de parqueamento a peso de ouro podem trazer a um sinistro. Assim sendo, é legítimo questionar porque não investem as seguradoras (através da sua Associação, por exemplo) num terreno onde possam partilhar o espaço com condições que lhes permitam efectuar as peritagens sem dependerem das oficinas (reduzindo substancialmente o custo médio dos sinistros desta dimensão).
Manda quem pode, mas ninguém pode negar que os custos da sinistralidade só poderão baixar quando o circuito dos processos depender mais das companhias e menos das falanges de oportunistas que se mostram prestáveis apenas quando podem lucrar à sua custa.

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